difícil não é viver, é saber viver. viver todos sabemos. basta respirar, encher o peito de ar e devagarinho deixar que o ar saia de dentro de nós, depois voltamos a encher o peito e a esvazia-lo muito, muito lentamente. viver é fácil. é deixar o coração bombear o sangue, é deixar as pernas andar, os braços mexerem-se e a cabeça mover-se. viver é tão, tão simples. a sabedoria de viver, a dificuldade de viver é quando temos de sincronizar todo o respirar, todo o batimento do coração com o nosso cérebro. com as milhentas células que nos corroem a cabeça, que nos fazem questionar, duvidar, amar, odiar, sofrer e viver. difícil não é viver, é saber viver. é saber apreciar, acarinhar e desaparecer. difícil é ter a noção de que o mar e o céu outrora foram irmãos, difícil é conseguir respirar enquanto sofremos, deixar que o coração bata enquanto sorrimos desesperados amarrados à barriga. difícil é ser transparente, ser único, ser incapaz. conseguirmos admitir que o mal dos outros nos faz bem, que a vida não passa de um caminho longo, muito longo entre o cordão umbilical e a morte. difícil não é viver, é ter consciência de que a vida é breve e a desperdiçamos como quem entorna um copo de vinho sobre a mesa. somos acéfalos de nós mesmos e pior de tudo, gostamos de o ser. difícil não é viver, é saber viver. saber estar, tocar, pensar, sentir.
cantamos tristemente aos deuses, aclamamos ferozmente pela paz de espírito, pela vida. mas, difícil não é conceber, não é parir, não é nascer, não é viver. difícil é saber viver.
cantamos tristemente aos deuses, aclamamos ferozmente pela paz de espírito, pela vida. mas, difícil não é conceber, não é parir, não é nascer, não é viver. difícil é saber viver.